sábado, 30 de abril de 2016

Precisamos falar sobre agressões entre lésbicas

Com quanta frequência você vê lésbicas falando sobre agressões entre lésbicas? Acredito que, com muito esforço, você consiga lembrar de uma ou duas vezes que ouviu isso em alguma roda de conversa, e também acredito que tenha sido uma conversa rápida, sem muita profundidade. Por que não falamos sobre isso? Qual é o medo que temos em assumir que, sim, há agressão entre lésbicas, há abuso entre lésbicas, e que nós precisamos tratar disso?

Desde agressão física a violência psicológica, existem agressões entre lésbicas, e por muitas vezes esses casos não são comentados, principalmente no meio feminista, porque há um “receio” de “isolar/excluir” a agressora. Porque tratar de agressão entre mulheres, principalmente entre lésbicas, é tabu, não é levado à sério, é tratado como “pode ser resolvido com um diálogo/com uma mediação”. Mas, afinal, por que banalizamos tanto esse tema?

Porque não conseguimos conceber a ideia de que uma mulher pode oprimir, agredir e abusar de outra. Isso se dá devido ao fato que, nós, lésbicas feministas, ouvimos no meio político que agressões entre mulheres devem ser tratadas de ,maneira diferente. Estou de acordo que devem ser tratadas com cautela, mas não podemos banalizar denúncias como temos feito. Se uma lésbicas sai de um relacionamento abusivo e não quer encontrar sua abusadora em espaços políticos, a vontade dela deve ser respeitada e a presença da algoz não deve ser imposta. Não existe um meio de “coletivizar” isso, pois foi uma situação de abuso. Isso seria colocar a abusada de frente à abusadora para que elas discutissem algo que não fará bem àquela que foi a vítima. Isso seria colocar a vítima em ligação direta com alguém que fez mal a ela.

Existem mulheres que têm um histórico de abuso grande e conhecido, e precisamos afastá-las do movimento.

“Mas papo reto, vocês estão afastando mulheres de espaços políticos! Elas também precisam de ajuda”

Não, nós estamos afastando mulheres nocivas e perigosas do convívio com outras mulheres. Estamos evitando que abusos se repitam e que elas façam novas vítimas, pois existem mulheres que se aproveitam de outras, e elas possuem plena consciência do que estão fazendo.

“Mas e o que fazemos com outras mulheres abusivas, afastamos elas do movimento também?”

Existem casos e casos. Anteriormente falávamos de mulheres que possuem um histórico de abuso grande, fora outras denúncias, e que percorrem os espaços políticos livremente e colocam outras mulheres em risco.

Porém, todas sabemos que existem lésbicas que são abusivas, mas não possuem consciência disso, que reproduzem comportamentos abusivos.

Frequentemente, lésbicas que reproduzem comportamento abusivo, procuram tratamento e preferem estar só pois entendem que podem ser um perigo à outras lésbicas. Mesmo querendo mudar, estas mulheres podem continuar reproduzindo abusos pois ser abusivas também é um vicio. Lésbicas que reproduzem comportamentos e pedem ajuda devem também ser acolhidas, num outro sistema que não seja da vítima, mas são mulheres que também precisam de ajuda. E é aquela velha história: ouça o que a ex tem a dizer e análise se não há reincidência de comportamento.

A diferença entre essas mulheres que reproduzem abuso e as que se aproveitam e manipulam outras mulheres, é que uma realmente procura mudança e buscará ajuda enquanto a outra muda apenas de vítima, por isso é de suma importância que essas mulheres sejam afastadas de todos os espaços para garantirmos segurança à suas vitimas.

Algumas abusadoras preferem se afastar desses espaços como estratégia, como manipulação, com o intuito de conseguir mais vitimas, pra abusar e explorar mais mulheres, de todas as formas possíveis, assim, podem se manter dentro do movimento.


Uma lésbica que explora, abusa e manipula outras mulheres tende a ter um comportamento um tanto sistemático: quando ela se afasta dos espaços a fim de manipular mais mulheres, ela começa a chantagear emocionalmente as próximas vítimas, invertendo os papéis e se colocando como a real vítima, depositando assim toda a culpa dos seus abusos nas mulheres que ela abusou e/ou explorou. Em alguns casos, confessa seus abusos relativizando-os.

Por isso, reiteramos: nós precisamos ouvir e priorizar as vítimas, pois só conseguimos enxergar e diferenciar uma lésbica que reproduz comportamento abusivo de uma lésbica manipuladora, através delas.

Por: Lacuna Rat e Magnoliophyta

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